terça-feira, 3 de maio de 2011

Pense grande

Papel de parede, móveis multifuncionais, aparelhos eletrônicos embutidos e outras soluções para ampliar ambientes pequenos


Tamanho não é documento. A área privativa do imóvel deixou de ser o principal fator na hora da compra. Hoje, a lista de prioridades é definida por critérios como localização, distribuição dos cômodos e até a versatilidade do apartamento, ou seja, quanto ele pode ser adaptado de modo a ampliar o espaço físico e a sensação de conforto.

Os imóveis em São Paulo nunca foram tão pequenos. Em 2005, dos 24 mil apartamentos lançados na cidade, 14 mil tinham menos de 85 metros quadrados (56% do total). No ano passado, esse segmento representou quase 80% do total: 30 mil das 37 mil unidades lançadas. Segundo a Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), 53% dos imóveis atuais têm menos de 65 metros quadrados. Um dos motivos dessa tendência é o preço do metro quadrado, em ascensão devido à escassez de terrenos nas áreas nobres. Para viabilizar financeiramente um projeto, as incorporadoras não hesitam em colocar três torres em áreas que comportariam apenas uma dez anos atrás – nem em dividir um andar em oito unidades de 48 metros quadrados.

Outro motivo é a adaptação das plantas a um estilo de vida contemporâneo. As famílias estão menores e os moradores passam menos tempo em casa. “Os projetos refletem o modo de vida da população”, diz o arquiteto Guto Requena, apresentador do programa Nos Trinques, do GNT. Marcelo Dadian, diretor regional da incorporadora Rossi, diz que as novas plantas privilegiam espaços de convívio social em detrimento dos quartos. “É comum ver apartamentos de 60 metros quadrados com varanda gourmet”, afirma. Para Ricardo Grimone, da Even, os dormitórios são as vítimas preferenciais do encolhimento imobiliário, mas isso não chega a afetar o conforto dos moradores. “A maioria só usa o quarto para dormir”, diz.

A gerente de loja Patricia Fleury, de 36 anos, quase não para em seu apartamento, um dúplex de 60 metros quadrados com um dormitório. “Mas sou bem caseira nos fins de semana”, afirma, justificando a contratação da arquiteta Ana Lucia Siciliano. Ela trocou de lugar a porta do lavabo e ganhou uma parede inteira, ampla o bastante para receber uma TV de LCD. Embaixo da tela, coube um móvel que abriga o aparelho de DVD, livros, revistas e um vaso.

Para que mais?

Dos apartamentos lançados entre janeiro e setembro de 2010, 12% têm um dormitório e 47% têm dois, segundo levantamento da Lello Imóveis, e a área média não chega a 60 metros quadrados. Em muitos casos, essa mesma metragem comporta três quartos. É esse o tamanho do apartamento do engenheiro André Mendes, de 33 anos, e da assessora de imprensa Adriana Coev, de 35. Quando se casaram, em 2005, os dois compraram um imóvel na planta, em Santo André, e deixaram para resolver a falta de espaço ao decorar. “Como eu já tinha um filho, o Leonardo, e quero ter mais um, tinha de ser um imóvel com três quartos”, diz Adriana. Com o mesmo valor, o casal poderia ter escolhido um maior, numa região mais afastada, mas preferiu priorizar a localização. “Meu filho estuda a 800 metros de casa, e meu marido e eu não levamos mais de 15 minutos para chegar ao trabalho.”

Para driblar a escassez de espaço, a família trocou a porta da suíte por um modelo deslizante, fixou um espelho nela para dobrar a aparente extensão do corredor e investiu em um projeto para a sala. “Encomendamos um painel com prateleira para abrigar a TV e os acessórios e colocamos o papel de parede”, conta. Segundo o arquiteto Maurício Arruda, papéis com padrões geométricos ajudam a desviar o olhar para um ponto de fuga distante, favorecendo a sensação de amplitude. Além disso, a família trocou a parede da cozinha por um balcão americano e adquiriu uma mesa de jantar que passa facilmente por mesa de trabalho.

Ao calcular o custo da casa nova, portanto, é prudente separar uma verba extra para trocar móveis, encomendar um projeto de marcenaria e, em alguns casos, contratar um designer. Há profissionais especializados em espichar ambientes, seja por meio de reformas ou usando elementos decorativos que dão a ilusão de amplitude.

Móveis multifuncionais costumam ser o maior trunfo das menores casas. No apartamento de 29 metros quadrados do designer Adonis Galvão, de 38 anos, objetos curingas estão por todo lado. Um móvel que serve de aparador quando colado à parede se transforma em escrivaninha ou mesa de jantar. A pedra da pia do banheiro vira tábua de passar e, na ausência de área de serviço, a máquina de lavar e secar fica ali mesmo, no banheiro, embutida sob a cuba e ao lado do gabinete. Quarto e sala ocupam um único ambiente – e, mesmo assim, o visitante não se sente apertado. Mérito também da grande janela e da deslumbrante vista do Centro: benefício de quem mora no último andar do Edifício Copan. Galvão também trocou o sofá por duas poltronas e as cadeiras por bancos. Tudo para aproveitar melhor cada centímetro.

Oito dicas para ter mais espaço

1.Tenha poucos objetos e pense duas vezes antes de comprar móveis – e de guardar coisas que não voltará a usar

2. Prefira móveis multifuncionais que você possa usar em diferentes ambientes. Um banco que vira criado-mudo é uma boa opção

3. Procure dar unidade aos revestimentos. Repetir o piso ou as mesmas cores nas paredes ajuda a criar a sensação de continuidade

4. Invista num projeto de marcenaria para todos os cômodos. Móveis sob medida são sempre mais compactos e funcionais que os produzidos em escala

5. Armários e estantes devem ocupar uma só parede em cada ambiente. As demais devem ficar livres

6. Não tenha medo de usar cores. Elas têm o poder de dar personalidade a um espaço de maneira rápida e barata. As cores claras refletem mais a luz e dão a sensação de amplitude

7. Papel de parede pode ser uma boa. Prefira os padrões geométricos e em tons neutros. O recurso também pode ser usado em apenas uma parede de cada ambiente

8. Tenha plantas. Elas remetem ao ar livre e, inevitavelmente, darão um aspecto de jardim à parte da casa em que forem colocadas


Fonte: http://epocasaopaulo.globo.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário